sexta-feira, 10 de junho de 2011

Contratar consultoria ainda é tabu

Apesar da qualificação dos profissionais e do aumento da complexidade nas relações empresariais, contratar um consultor ainda é tabu para muitos gestores.


É inegável a resistência aos consultores nas empresas familiares. E ao observarmos mais de perto as razões, descobrimos que nada ou bem pouco tem a ver com técnica. O maior obstáculo é o medo de se expor, de revelar os pontos fracos do administrador e da empresa.

Observando a cultura empresarial européia e norte-americana, vemos que há mais de meio século, administradores, públicos ou privados, freqüentemente utilizam-se da contratação de consultores externos na busca constante de melhores índices de eficiência e produtividade para suas empresas. Justifica-se por ai o tamanho que algumas empresas do ramo alcançaram e o know-how que desenvolveram.

No Brasil, ressalvadas honrosas exceções, recorrer ao auxílio externo ainda é um grande tabu. Muitos têm uma visão distorcida: autoproteção, impessoalidade, hiperexposição e o medo de passar um "atestado de incompetência" frente aos funcionários e familiares repetem-se como justificativas da não contratação, o que somente reflete o desconhecimento do papel do consultor moderno. Assim, significativa parcela do nosso empresariado ainda não utiliza a consultoria, justamente aquela que melhores benefícios poderia colher, caso o desconhecimento e até o preconceito não vingassem.

Mas qual a origem de tanta resistência? Em parte, reside no fato de que na maioria das empresas brasileiras de origem familiar, as tradições que por um lado simbolizam uma respeitável história de luta, suor e lágrimas, de outro disseminam uma permanente atmosfera de cumplicidade familiar, que inconscientemente inibe o atual herdeiro-presidente a abrir seu "templo sagrado" para que consultores profissionais "tomem-no de assalto", detectando pontos de estrangulamento, identificando as reais oportunidades de melhoria, optando por soluções "diabólicas", decepando cabeças, impondo métodos e sistemas que fariam o atual administrador perder seu "pátrio poder" dentro e fora da empresa.

Há ainda o apego aos antigos métodos, costumes e funcionários – todos fiéis colaboradores – "e que não podem ser mudados ou questionados por um estranho que não conhece nossa história ou filosofia." Como se história curta ou longa preservasse a empresa da concorrência ou filosofia evitasse erros de gestão. Ledo engano!

Exageros á parte, a realidade é bem diferente. O empresário deve esperar de uma empresa de consultoria o mesmo que de outros fornecedores: receber o que não tem ou não produz. Neste caso, metodologia e conhecimento. Desde a abordagem inicial até a entrega final do produto o consultor moderno jamais deverá perder de vista os aspectos históricos, filosóficos e humanísticos do cliente, pois ferido um só destes elementos, qualquer planejamento que se pretenda caminhará com muita dificuldade e inexoravelmente para o fracasso.

A consultoria moderna deve ser entendida como uma ferramenta auxiliar, que durante um período específico oferece ao empresário conhecimento e metodologia que aplicados de modo racional e sistematizado buscarão otimizar os recursos disponíveis - humanos e materiais – para alcançar objetivo claramente definido, sempre em um nível de sofisticação condizente com as realidades "tomografadas" no diagnóstico inicial da empresa.

Por ora, resta ao profissional de consultoria em sua obstinada luta contra o preconceito, a expectativa de sensibilizar o "administrador quixotesco" que na clausura do tabu e da "autoinsuficiência", muito pouco do patrimônio que hoje tem preservará para as pompas da sucessão.

Fonte: Anderson Dutra

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