sexta-feira, 10 de junho de 2011

Quando e Porque é Preciso Mudar?

Sempre que analiso o cenário de negócios de uma empresa, detenho-me inicialmente sobre os números porquanto eles deixam sinais que precisam ser decifrados. Os números sempre me inspiram em busca da lógica e da razão. São eles os números que sinalizam sobre mudança comportamental de clientes, alertam sobre a agressividade da concorrência e se constituem em termômetro eficaz sobre as leis implacáveis do mercado.

Um gestor que não for sensível aos números, estará fadado ao insucesso, com todas as letras.

Radiografados os números e através deles, chego rápido aos processos operacionais que envolvem a logística da empresa e, conseqüentemente às pessoas envolvidas e responsáveis pelo contexto empresarial presente.

Nesse trabalho inicial, ouço o histórico da empresa porque é nele que estão os pontos nevrálgicos. Ali se desenham desde questões e sentimentos familiares, a sentimentos pessoais com predominância de “briga pelo poder” e não raro, são encontrados casos de complexo de auto-suficiência, que denomino de complexo de auto-insuficiência etc. Nesse cenário, os problemas se avolumam no dia-a-dia e saltam aos olhos urgindo soluções imediatas, ou seja, uma correção de rota sob pena de em pouco tempo, aquela empresa ser apenas lembrada como coisa do passado.

E quando isso acontece, alguns, dezenas, centenas ou milhares de empregos escoam pelo ralo, deixando à deriva famílias desorientadas, sonhos e esperanças desfeitos. É quando a empresa que antes era um sonho transforma-se em um pesadelo.

Como em uma empresa o funcionamento se dá em série rítmica de procedimentos, completando-se o ciclo operacional sempre no lugar de origem, muitas vezes o primeiro problema apresenta-se pequenino, lá na ponta, ou no suporte, mas, deriva-se como um tsunami para as áreas de planejamento, criação, produção, comercialização distribuição etc.

Em muitos e inúmeros casos o problema tem origem na guerra de egos, quando os interesses pessoais de alguns, falam mais alto do que os interesses empresariais. Neste caso específico, quando a guerra de egos ocorre no topo da pirâmide geralmente a falência dos propósitos já está na calçada da empresa ou no pátio de estacionamento.

E este é um quadro dramático na vida das empresas. Paredes e teto se intercomunicam numa linguagem surda, enquanto línguas e ouvidos humanos se digladiam precedendo a derrocada.

Este é um cenário perfeito para a Lei de Murphy: “Quando se quiser que algo se acabe, nada se faça, basta deixar como está”. Mas, porque e na maioria dos casos, os problemas uma vez detectados, não são imediatamente eliminados, evitando-se males maiores? Porque os donos de empresas não se conscientizam de que é preciso promover mudanças, como única forma de salvar seus empreendimentos? Muitas empresas têm um histórico de sucesso, mas seus dirigentes inebriados se esquecem de que lá fora o mundo é cíclico e dinâmico.

A competitividade do mercado não se baseia em fusos horários, mas, no relógio de tempo universal. É preciso estar atento ao que ocorre no mercado em que a empresa atua. Novos produtos, novos serviços, novas fórmulas de marketing, novos clientes e principalmente, novos critérios de capacitação profissional e de gestão, tudo isso gravita em torno dos negócios, não importando sua dimensão.

Bill Gates nunca imaginou que o “Google”, um projeto acadêmico surgido no final dos anos 90, pudesse se constituir em um concorrente ameaçador e que hoje está avaliado em 120 bilhões de dólares.

Grandes corporações mundiais e seus executivos de terno e limusines, baixaram a guarda, contabilizando vitórias inexpressivas, esquecidos do rolo compressor do mercado mundial. Quando se deram conta de que seus relatórios não dispunham da visão futurísticas dos negócios, perderam seus empregos e suas posições sociais.

Quem imaginaria a China como a mais emergente potência mundial? Há 2.500 anos Confúcio ensinava: “Eduque as pessoas e faça-as ricas”. Seguindo a lição Confuciana aquele País elegeu a educação como prioridade nacional. Hoje, lá se formam 400.000 engenheiros por ano e os chineses constroem universidades obsessivamente. Estima-se que num futuro próximo a China terá mais de 2.000 universidades. (fonte: Revista Veja – edição 1.931). A resposta é simples: a China soube a hora de promover sua grande mudança, começando pela educação, o maior legado com que uma nação soberana contempla seus cidadãos.

Empresas não fogem à regra. Desconhecer ou ignorar a necessidade de mudança poderá significar o fim de uma empresa. O grande problema é que a mudança quando sistêmica provoca alguns terremotos, contrariando interesses pessoais dentro das organizações. E isto é facilmente detectado pelas pessoas envolvidas e descompromissadas, que passam a boicotar o processo. Isto é sintomático.

Sobre isso, o grande pensador Nicolau Maquiavel escreveu o seguinte: “Não há algo mais difícil, nem de êxito mais duvidoso, nem mais perigoso, do que se iniciar uma nova ordem das coisas. Porque o reformador tem inimigos em todos aqueles a quem a ordem antiga beneficiava e somente tímidos defensores em todos aqueles que poderão tirar proveito da nova ordem. Essa fraqueza nasce parcialmente do medo da incredulidade dos homens que não acreditam verdadeiramente em algo novo, senão depois de uma firme experiência”.

Tenho afirmado em meus cursos, trabalhos e palestras que um dos fatores criadores de problemas nas empresas, está na legislação trabalhista brasileira. Caduca no espaço e no tempo e já necrosada, jaz inerte no gavetão frio do IML da modernidade. O escrachado paternalismo das leis trabalhistas brasileiras, mais a insensibilidade de muitos togados que desconhecem os passos operacionais dos processos de trabalho, inauguraram no Brasil, desde 1º de maio de 1943, o mundinho medíocre da CLT.

De lá para cá este País é uma grande farra trabalhista para empregados mal caráter, sindicatos ideólogos e delegacias regionais do trabalho. Uma lei trabalhista que em pleno século XXI, contempla com 12 dias de férias mais 1/3, a um empregado que falta injustificadamente até 32 vezes ao serviço, durante doze meses de trabalho, honestamente não é uma lei, mas uma aberração legal.

Entendo que os sistemas remunerativos das empresas devam passar por um rigoroso e criterioso processo de reavaliação, eliminando-se na maioria dos casos, os salários fixos e pagando-se salários comissionados. Esta sim é uma fórmula de se contemplar com justiça os que realmente trabalham, ou seja, isto é política de resultados. Isto é modernidade.

Em 1986 um cidadão brasileiro chamado Ricardo Semller, que escreveu um livro denominado “Virando a própria Mesa” já imaginava uma lixeira cheia de malfadados “planos de cargos e salários”. Ele estava certíssimo. Não há algo mais pernicioso em uma empresa, do que um funcionário pensando como empregado. Ele não quer o trabalho, ele só quer o emprego. Os primeiros endereços que ele aprende e os segue como um autômato, são: o da Delegacia Regional do Trabalho e o do escritório de algum advogado trabalhista.

Para sobreviver com sucesso em um mercado globalizado e tão competitivo e ainda em um País como o Brasil, de firulas legais tão aculturadas, uma empresa precisa sem perda de tempo, ter plena consciência sobre o que seus clientes pensam a seu respeito.

Fazer uma pesquisa de opinião com os clientes, pelo menos uma vez por ano, significa para uma empresa saber sua “hora da verdade”. Uma empresa que não consegue se olhar no espelho, não é uma empresa séria e sua presença no mercado é apenas uma aventura. Empresas assim, rolam seus passivos financeiros ano após ano, como se fosse coisa normal.

 Geralmente, trata-se de empresas cujos donos ou diretores, confundem apurado com lucro e mesmo à luz do dia, assaltam seus caixas como vorazes predadores. Uma empresa que se julgue séria, mas, passe por momentos de turbulência, precisa de um dono, diretor ou dirigente corajoso que avalize e legitime um processo de mudanças. E mais, implemente as mudanças necessárias no seu devido tempo.

Mudar significa sair de um cenário e entrar noutro. Isto significa investir em conhecimentos humanos, na maioria dos casos, trazidos de fora. Significa também promover um processo de reciclagem e depuração dos talentos humanos que a empresa já possui.

Em síntese a empresa precisa mergulhar de cabeça no seguinte quadrante: - Como estamos? - Como poderemos ficar? - Quais as barreiras? - Quais serão os resultados?

Uma empresa que pretenda continuar no mercado, precisa conhecer profundamente sobre “clientes”. Precisa investir fortemente no “atendimento”. Precisa investir nos talentos humanos que se demonstrem competentes e mandar embora sem remorsos quem não agrega resultados.

Há tempos, o mercado de mão de obra exige pessoas multifacetadas, ou polivalentes, mas, isto também só não basta. É preciso pessoas comprometidas até a medula com os propósitos empresariais. Hoje não se precisam mais de empregados, mas, de parceiros. Poucos e excelentes este é o lema.

O processo de mudanças numa empresa, provocará momentos de stress? Sim e daí, tudo tem seu preço. O que importa é que lá fora, há um grande mercado consumidor a espera de produtos e serviços com proposta diferenciada. Nada de mesmice.

A empresa que se der conta dessa realidade, com certeza aumentará seu fluxo de caixa e sua conta bancária, contribuindo obviamente com o aumento e geração de oportunidades de trabalho e renda, preferentemente dentro do padrão de responsabilidade social.

Fonte:
José Milton Ferreira de Aquino
Contabilista, auditor, consultor de gestão e negócios de pequenas empresas - Fortaleza - Ceará

Nenhum comentário:

Postar um comentário